Eu sofro porque eu estou longe das pessoas que eu quero estar perto, mas eu sofro porque os lugares onde elas estão eu não gostaria de estar, apenas queria que elas estivessem aqui. Eu ia sofrer menos se a Carol, a Marcela e a Olivia estivessem aqui, ou nem sofreria mais.
Eu estou sofrendo por amar a cidade onde vivo, o lugar onde moro, mas ter quem eu amo longe. Eu sofro porque eu tenho medo de ter que voltar. Não ter trabalho aqui, nessa cidade que eu amo e ter que voltar. Eu não quero voltar.
Já aprendi a lidar com a saudade das pessoas que eu amo, não quero ter que lidar com o fracasso de retornar pra um lugar que eu não gosto só porque não tenho como me sustentar.
Nos últimos dias eu tenho sofrido mais porque tenho que ganhar dinheiro, pra ganhar dinheiro eu preciso de um trabalho e eu não tenho. O fato do dinheiro que ainda me resta estar acabando me enlouquece, porque dinheiro é uma coisa que enlouquece as pessoas e a falta dele enlouquece muito mais.
Então penso que ir à farmácia, que é ao lado do supermercado, é mais fácil. Mas me disseram que veneno de rato é mais barato e eficiente, então voltei ao super, mas não comprei veneno de rato.
Há anos eu não sabia o que era escolher um creme dental em vez do outro por causa de centavos de diferença, assim aconteceu com o papel higiênico, com o presunto e com os demais itens da lista.
Há anos eu não sabia o que era fazer apenas 2 refeições por dia só pra não precisar gastar com comida.
Há anos eu não sabia mais o que era ligar pro meu pai pra ter que pedir dinheiro
Me faz sofrer de forma arrebatadora imaginar a expressão no rosto dele quando eu terminar as frases que estou ensaiando dizer, envolve pedido de desculpas, vergonha por não poder me sustentar e o quanto me sinto humilhada por isso.
Eu estou sofrendo também, por pequenos sofrimentos da vida, pequeno sofrimentos que se juntam e formam um tão grande que a gente perde o controle e chora que nem criança.
Eu estou sofrendo porque eu tô longe da minha mãe, eu sofro porque ela diz que eu tenho que ser forte e boa filha pra mostrar pro meu pai que eu sou boa filha. Mas eu sofro por não poder fazer o que minha mãe pede, logo, não sou boa filha, então não posso mostrar pro meu pai que sou uma boa filha.
Então sempre penso que um telefonema ela pode resolver toda a minha vida, ela me liga e os problemas continuam ali e eu sinto que eu sofro ainda mais ao me dar conta que o telefonema dela piorou tudo.
Quem sabe eu esteja sofrendo muito, porque eu não precise de um telefonema, mas preciso de colo de mãe
Sigo sofrendo porque quem eu gosto
Ele não quer me ver, mas aceitou me atropelar se for antes de trocar as peças do carro, senão pode dar problema de novo - eu me pego fantasiando que esse é o jeito dele mostrar que gosta de mim e volto a sofrer ao perceber que não.
Então quando o coração começa a se sentir mais aliviado, eu me dou conta de que sofro por outros motivos bobos, como não conseguir baixar um dos filmes que eu quero ver, ora dá erro, ora não encontro legenda compatível, é um sofrimento só.
Um sofrimento não tão só, ele vem acompanhado de polenta, que é um alimento que me faz feliz, porque eu lembro quando eu era criança e não sofria. Mas meu pai gosta de polenta e quando meus pais ainda viviam juntos, tinha polenta na mesa, tinha meu pai e minha mãe e tinha uma família ali. Eu não sei fazer polenta. Não sei porque meu pai diz que ninguém faz polenta como a minha mãe e eu queria que ela pudesse fazer polenta pra ele, e a sentarmos juntos de vez em quando.
Depois de tanto lamentar, passa, passou.
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