24 de outubro de 2012

A lenda do traficante "Moedinha"



Você já ouviu falar no traficante “Moedinha”? Provavelmente sim. Aqui em Ilha do Cofre todo mundo já ouviu falar. O que alguns ainda não sabiam, era por que seu apelido era Moedinha.

Que traficante de respeito tem um apelido tão simplório e ainda no diminutivo?! O que nem condizia com seu físico medonho, era baixinho, magro, tinha pernas finas, parecia um palito - o apelido poderia ser Palitinho, Palito, faria mais sentido. Uma corcunda, uma barba ralinha, olhos castanhos, porém bem avermelhados onde deveria ser branco. Não era uma aparência de botar medo, tampouco respeito. Respeito que veio com o apelido, “Moedinha”. Jorge Luiz - verdadeiro nome de Moedinha - começou a fazer uns corres de drogas, qualquer tipo de droga, pra qualquer tipo de gente. O importante pra ele era ganhar seu dinheiro. O pessoal sempre pagava, mas um dia, alguém resolveu não pagar - alguém, um dia, sempre resolve não pagar - enrolou Jorge Luiz como pôde. O devedor começou a nem dar mais importância pra dívida, já que Jorge Luiz não tinha porte pra fazer mal a um misero inseto.

"Terça-feira, duas e meia". Dizia o bilhete que Jorge Luiz entregou pro devedor no domingo, o qual continuou fazendo pouco caso.

Era terça-feira, ainda era cedo, o devedor nem lembrava mais do bilhete, já estava amassado e jogado no chão do seu quarto, junto de outros lixos. Duas e meia, Jorge Luiz nem bateu, entrou pela janela, deu um golpe no devedor - alguém sabia que JL sabia dar golpes? NÃO, muito menos o devedor - que desmaiou na hora.

Quando acordou, JL perguntou:
- Me dá meu dinheiro!
O devedor, ainda fazendo pouco, respondeu:
- Não tenho, mas se tu quiser, pega essas moedinhas no meu bolso, já é mais do que tu merece, seu merdinha.

JL pegou as moedas:
- Obrigado.

O devedor riu, riu até gargalhar. Na segunda gargalhada abriu tanto a boca que JL jogou uma moeda goela abaixo do devedor, que engasgou e acabou engolindo. JL pegou-o pelo pescoço:
- Agora tu só sai daqui quando cagar essa moedinha.

No outro dia o devedor cagou. Jorge Luiz pegou a moeda suja de bosta, nisso ele enfia a moeda dentro do olho do devedor, afunda até o cérebro do coitado do imbecil.
Junta o corpo no meio da noite, o jogou no meio de uma praça, que durante o dia era movimentada por todo tipo de gente, mas a noite só os traficantes estavam lá escondido entre as árvores, JL se afastou tranquilamente.
Lá estava o corpo nu, com a cara desfigurada, umas moedas jogadas sobre o corpo e um bilhete que saia do cu: “Moedinhas não pagam dívidas”.

Os traficantes que viram JL deixando o corpo lá, falaram para outros traficantes que conheciam, que falaram pros compradores e usuários. Em pouco tempo todos já sabiam e respeitavam Jorge Luiz, que já não era mais chamado assim, depois da fama só aceitava ser chamado de “Moedinha”.

21 de outubro de 2012

Sonho de uma noite de primavera


Essa noite sonhei que meu homem dormia ao meu lado, acordava antes de mim e estava descongelando a geladeira enquanto conversava com a vizinha da janela sobre a banda que ele tinha.
Logo a frente estava rolando um jogo de vôlei entre minotauros contra centauros.

Então entrei pra pegar o iPhone e fazer uma foto pra colocar no instagram E NÃO CONSEGUIA por motivos de: o iPhone estava dando uns problemas bizarros.
Foi só aí que eu me dei conta que tava sonhando!


• Conclusão 01: Tudo é possível nos meus sonhos, menos iPhone despirocado. 
• Conclusão 02: Preciso descongelar a geladeira. 

19 de outubro de 2012

Eu sofro muito

Eu sofro muito. Estou sofrendo muito hoje, nos últimos dias, últimos anos... quem sabe nas últimas vidas, se é que existem vidas passadas, se existiram, eu sei que sofri muito.


Eu sofro porque eu estou longe das pessoas que eu quero estar perto, mas eu sofro porque os lugares onde elas estão eu não gostaria de estar, apenas queria que elas estivessem aqui. Eu ia sofrer menos se a Carol, a Marcela e a Olivia estivessem aqui, ou nem sofreria mais. 
Eu estou sofrendo por amar a cidade onde vivo, o lugar onde moro, mas ter quem eu amo longe. Eu sofro porque eu tenho medo de ter que voltar. Não ter trabalho aqui, nessa cidade que eu amo e ter que voltar. Eu não quero voltar. 
Já aprendi a lidar com a saudade das pessoas que eu amo, não quero ter que lidar com o fracasso de retornar pra um lugar que eu não gosto só porque não tenho como me sustentar. 

Nos últimos dias eu tenho sofrido mais porque tenho que ganhar dinheiro, pra ganhar dinheiro eu preciso de um trabalho e eu não tenho. O fato do dinheiro que ainda me resta estar acabando me enlouquece, porque dinheiro é uma coisa que enlouquece as pessoas e a falta dele enlouquece muito mais.

Então penso que ir à farmácia, que é ao lado do supermercado, é mais fácil. Mas me disseram que veneno de rato é mais barato e eficiente, então voltei ao super, mas não comprei veneno de rato.

Há anos eu não sabia o que era escolher um creme dental em vez do outro por causa de centavos de diferença, assim aconteceu com o papel higiênico, com o presunto e com os demais itens da lista.
Há anos eu não sabia o que era fazer apenas 2 refeições por dia só pra não precisar gastar com comida.
Há anos eu não sabia mais o que era ligar pro meu pai pra ter que pedir dinheiro pra comprar comida, coisa que eu ainda não fiz, mas o fato de pensar em fazer, faz com que eu me sinta humilhada pela vida. Até porque, eu não precisaria estar contando os centavos pra comprar o básico se não fosse meu orgulho, orgulho que herdei do meu pai, por isso fica ainda mais difícil pedir dinheiro pra ele. 
Me faz sofrer de forma arrebatadora imaginar a expressão no rosto dele quando eu terminar as frases que estou ensaiando dizer, envolve pedido de desculpas, vergonha por não poder me sustentar e o quanto me sinto humilhada por isso.

Eu estou sofrendo também, por pequenos sofrimentos da vida, pequeno sofrimentos que se juntam e formam um tão grande que a gente perde o controle e chora que nem criança. 

Eu estou sofrendo porque eu tô longe da minha mãe, eu sofro porque ela diz que eu tenho que ser forte e boa filha pra mostrar pro meu pai que eu sou boa filha. Mas eu sofro por não poder fazer o que minha mãe pede, logo, não sou boa filha, então não posso mostrar pro meu pai que sou uma boa filha. 
Então sempre penso que um telefonema ela pode resolver toda a minha vida, ela me liga e os problemas continuam ali e eu sinto que eu sofro ainda mais ao me dar conta que o telefonema dela piorou tudo. 
Quem sabe eu esteja sofrendo muito, porque eu não precise de um telefonema, mas preciso de colo de mãe pra chorar que nem criança e ela está muito longe pra isso.

Sigo sofrendo porque quem eu gosto acho que gosto não quer me ver, mas eu acho que sofreria um pouco menos se eu pudesse ver, mesmo que de longe, só um pouquinho. Aí eu ia passar a sofrer por ter que me controlar pra não correr pra perto. Porque eu sofro e, quando eu não sofro por uma coisa, o sofrimento passa pra outra. 
Ele não quer me ver, mas aceitou me atropelar se for antes de trocar as peças do carro, senão pode dar problema de novo - eu me pego fantasiando que esse é o jeito dele mostrar que gosta de mim e volto a sofrer ao perceber que não.

Então quando o coração começa a se sentir mais aliviado, eu me dou conta de que sofro por outros motivos bobos, como não conseguir baixar um dos filmes que eu quero ver, ora dá erro, ora não encontro legenda compatível, é um sofrimento só. 
Um sofrimento não tão só, ele vem acompanhado de polenta, que é um alimento que me faz feliz, porque eu lembro quando eu era criança e não sofria. Mas meu pai gosta de polenta e quando meus pais ainda viviam juntos, tinha polenta na mesa, tinha meu pai e minha mãe e tinha uma família ali. Eu não sei fazer polenta. Não sei porque meu pai diz que ninguém faz polenta como a minha mãe e eu queria que ela pudesse fazer polenta pra ele, e a sentarmos juntos de vez em quando. 

Depois de tanto lamentar, passa, passou.