18 de fevereiro de 2013

O lugar onde minha mãe trabalha

No lugar onde minha mãe trabalha, eles gostam de metáforas.
Então minha mãe me contou uma metáfora sobre o lugar onde ela trabalha: imagine que você está no colégio, a professora pede para que você faça o dever de casa e pede que você resolva um problema de matemática, mas a professora não passa o problema pra que você possa resolver. 

É assim o lugar onde minha mãe trabalha.

*Problemas com briefing na agência. Quem nunca?

19 de dezembro de 2012

A história da mulher boba

Houve um Natal, depois de passado algumas desventuras, a mulher decidiu dar uma chance ao menino. Não era nada especial pra ela, apesar de ser noite de Natal, não parecia especial, mas foi.

Parecia estranho, era estranho, aquela mulher não era para aquele menino. Ainda assim, partir daquela noite, a mulher e o menino estavam sempre juntos. As pessoas chegaram a pensar que era a magia do Natal. Depois disso, um sentimento parecia crescer dentro deles.

O menino parecia confuso, com medo, aparentemente apaixonado, então ela decidiu tentar amar alguém que parecia gostar dela. A mulher tinha seus momentos de menina, era carente, nutria paixão por outro, não era correspondida e encontrou no menino alguém para repousar seus confusos sentimentos.

Equivocado, confuso, com medo, aparentemente apaixonado, o menino pede se a mulher gostaria de um relacionamento sério. Crente das boas intenções, no convívio intenso, ela aceitou.

Enquanto ele dizia palavras bonitas, com olhar misterioso, às vezes não dizia nada, a mulher era enganada e iludida. Chegou a pensar que poderia ser amor, afinal, precisava de alguém pra amar, ela achava que precisava.

Em tão pouco tempo, tinham planos, juras e nada em comum.

Numa dessas tardes peculiares, o menino vai encontrar a mulher e diz não a querer mais. Todo carnaval tem seu fim, o dele estava apenas para começar, queria começar livre.

Disse coisas que machucam. Feriu a mulher. Pior, feriu o ego e o orgulho da mulher, que depois disso (re)acordou pra vida. Não quer mais ninguém, não acredita em nenhum.

Isso só aconteceu porque ela estava carente, ele farejou a carência dela, chegou com seu ar de homem e saiu como um menino. Por isso, meninos, não tenham medo de nos machucar, não somos frágeis. O que machuca é seu medo de nos machucar. E, mulheres, pode haver outros meninos mentirosos por ai, esperando seu momento de carência para poder te ludibriar. Não se ama da noite pro dia. Não se deixa de amar do dia pra noite.

7 de novembro de 2012

Divagando sobre os quereres



Eu queria mudar tudo, não apenas mudar.
Queria mudar de país ou apenas de lugar. Uma tribo na Indonésia, quem sabe.  Ir pra onde não entendessem a minha língua, onde ninguém entendesse o que eu quisesse dizer, onde seria difícil me entender até com sinais. Queria saber como é comunicar. Aprender a comunicar. Entender a falta da comunicação.

Um lugar onde só tivesse pessoas diferentes de mim.

Queria ir pra um lugar onde eu esquecesse meus óculos e depois fosse pra outro lugar e nunca mais voltar onde esqueci meus óculos. Queria saber como é estar sem se comunicar e sem enxergar.  Queria saber que a dor de cabeça por não poder ver bem iria passar depois de um tempo, ou se eu ia acostumar com a dor.

Lá, nesse lugar, não teria como comprar comida. As pessoas iriam plantar seus alimentos, matar seus alimentos. Um lugar onde não tivesse chocolate, nem cerveja, nem os olhos julgadores das pessoas que reprimem.

Um lugar onde não tivesse banho quente, onde tivesse muito frio, tivesse muito calor. Queria que não tivesse dinheiro, calçados, queria que ninguém tivesse roupas além do necessário. Um lugar onde as pessoas iriam se aquecer com o calor humano, onde teria muito abraço. Talvez eu possa ficar por aqui, talvez eu só precise de um abraço.

Queria lidar com perdas, perdas básicas. Queria saber se perdendo o básico, iria deixar de preocupar com o fútil, se iria entender o fútil. Queria sentir como é dormir e não ter cama, dormir no chão. 

Queria ir para um lugar onde pudesse olhar nos olhos das pessoas e entender. Queria ser entendida num olhar.

Um lugar onde eu pudesse correr, correr e gritar, quem sabe aprender a nadar. Quem sabe gritar embaixo d’água. Quem sabe olhar pro céu e ver estrelas e as nuvens e a lua. 

Queria saber como é perder tudo isso. Tudo que estou olhando agora, tudo que estou pensando agora. Acordar sempre em lugares diferentes, amar eternamente por um dia pessoas que nunca mais iria ver.

Um lugar onde tivesse uma montanha muito alta e poder subir a montanha e passar os últimos dias na montanha. Congelar na montanha.

Quem sabe eu não queira nada disso. Quem sabe eu só queira perder todas essas coisas pra esquecer as outras coisas que eu realmente queria ter e não tenho e não posso ter. Quem sabe eu queira dormir. Quem sabe eu deva dormir. Boa noite. Dormir eu posso ter, tudo.

♪ Não adianta 

4 de novembro de 2012

Ingenuidade ou burrice? Mentira!


Eu não entendo qual é o teu objetivo com esse tipo de atitude. Provar que não te apegas? Que tá cagando pras pessoas que se importam contigo? Só por que uma vez o trouxa foi você, agora faz alguns de trouxa pra aliviar a dor que sentiu? É isso?

Quando eu quis mostrar que poderias confiar em mim, não me dei conta que tu não queres confiar em ninguém. Quis compreender tuas atitudes, mas esqueci de que tu és autossuficiente. Eu não faço parte.

Eu fui mais ingênua do que eu pensava ser. Eu quis tanta coisa, deixei de lado tanta coisa. Eu sei, ninguém pediu nada, mas por algum motivo burro achei que poderia valer a pena.

Agora vejo teu egoísmo. Não acho ruim ser egoísta, a não ser que esse teu egoísmo possa ferir meus sentimentos – o que parece ser o de menos pra ti – meus sentimentos e das pessoas que tu envolveste nisso.

Por muito tempo eu julguei tuas atitudes egoístas como ingenuidade ou medo. Até onde vai teu medo? Até onde vai a inconsciente revolta por uma pessoa foder com a tua vida?

Não acredito que atitudes justifiquem os erros, mas tu não teves culpa? É muito bom fingir que não. Assim a gente pode “ligar o FODA-SE” e não precisa se justificar, como tu mesmo dizes: “eu não preciso dar explicação pra ninguém”.

Eu não quero ser assim, eu não quero perder a fé, por isso eu sempre acredito nas pessoas. Eu não “ligo o foda-se”. Não acho que por que alguns me machucaram, que todos vão machucar. Eu não culpo as pessoas por não saberem o que fazer com o amor que tem dentro de si. Sempre tem alguém disposto a me abraçar, apenas por saber que eu preciso desse abraço. Queria que tu pudesses entender isso. Mas eu não quero te dizer o que entender. Eu não quero te dizer nada.

Não lembro bem como é, mas... quando a gente gosta de alguém e se transforma em dor passa a ser ódio, depois vem a repulsa, até que tudo passa e a gente nem lembra mais como foi gostar daquela pessoa.

Eu pensei em chorar - “chora que passa” - mas agora eu não quero chorar, eu, que choro tão fácil. Não te comova quando eu choro, mas quando seguro o choro. É nessas lágrimas que estão minhas maiores dores. O que eu sei, é que agora tá doendo, posso estar começando a odiar e logo tudo vai passar, TUDO PASSA.

Se me perguntares como eu me sinto, as duas coisas. É assim que eu me sinto hoje: ingênua e burra.


♪ Samba do Grande Amor MENTIRA - Chico Buarque

24 de outubro de 2012

A lenda do traficante "Moedinha"



Você já ouviu falar no traficante “Moedinha”? Provavelmente sim. Aqui em Ilha do Cofre todo mundo já ouviu falar. O que alguns ainda não sabiam, era por que seu apelido era Moedinha.

Que traficante de respeito tem um apelido tão simplório e ainda no diminutivo?! O que nem condizia com seu físico medonho, era baixinho, magro, tinha pernas finas, parecia um palito - o apelido poderia ser Palitinho, Palito, faria mais sentido. Uma corcunda, uma barba ralinha, olhos castanhos, porém bem avermelhados onde deveria ser branco. Não era uma aparência de botar medo, tampouco respeito. Respeito que veio com o apelido, “Moedinha”. Jorge Luiz - verdadeiro nome de Moedinha - começou a fazer uns corres de drogas, qualquer tipo de droga, pra qualquer tipo de gente. O importante pra ele era ganhar seu dinheiro. O pessoal sempre pagava, mas um dia, alguém resolveu não pagar - alguém, um dia, sempre resolve não pagar - enrolou Jorge Luiz como pôde. O devedor começou a nem dar mais importância pra dívida, já que Jorge Luiz não tinha porte pra fazer mal a um misero inseto.

"Terça-feira, duas e meia". Dizia o bilhete que Jorge Luiz entregou pro devedor no domingo, o qual continuou fazendo pouco caso.

Era terça-feira, ainda era cedo, o devedor nem lembrava mais do bilhete, já estava amassado e jogado no chão do seu quarto, junto de outros lixos. Duas e meia, Jorge Luiz nem bateu, entrou pela janela, deu um golpe no devedor - alguém sabia que JL sabia dar golpes? NÃO, muito menos o devedor - que desmaiou na hora.

Quando acordou, JL perguntou:
- Me dá meu dinheiro!
O devedor, ainda fazendo pouco, respondeu:
- Não tenho, mas se tu quiser, pega essas moedinhas no meu bolso, já é mais do que tu merece, seu merdinha.

JL pegou as moedas:
- Obrigado.

O devedor riu, riu até gargalhar. Na segunda gargalhada abriu tanto a boca que JL jogou uma moeda goela abaixo do devedor, que engasgou e acabou engolindo. JL pegou-o pelo pescoço:
- Agora tu só sai daqui quando cagar essa moedinha.

No outro dia o devedor cagou. Jorge Luiz pegou a moeda suja de bosta, nisso ele enfia a moeda dentro do olho do devedor, afunda até o cérebro do coitado do imbecil.
Junta o corpo no meio da noite, o jogou no meio de uma praça, que durante o dia era movimentada por todo tipo de gente, mas a noite só os traficantes estavam lá escondido entre as árvores, JL se afastou tranquilamente.
Lá estava o corpo nu, com a cara desfigurada, umas moedas jogadas sobre o corpo e um bilhete que saia do cu: “Moedinhas não pagam dívidas”.

Os traficantes que viram JL deixando o corpo lá, falaram para outros traficantes que conheciam, que falaram pros compradores e usuários. Em pouco tempo todos já sabiam e respeitavam Jorge Luiz, que já não era mais chamado assim, depois da fama só aceitava ser chamado de “Moedinha”.

21 de outubro de 2012

Sonho de uma noite de primavera


Essa noite sonhei que meu homem dormia ao meu lado, acordava antes de mim e estava descongelando a geladeira enquanto conversava com a vizinha da janela sobre a banda que ele tinha.
Logo a frente estava rolando um jogo de vôlei entre minotauros contra centauros.

Então entrei pra pegar o iPhone e fazer uma foto pra colocar no instagram E NÃO CONSEGUIA por motivos de: o iPhone estava dando uns problemas bizarros.
Foi só aí que eu me dei conta que tava sonhando!


• Conclusão 01: Tudo é possível nos meus sonhos, menos iPhone despirocado. 
• Conclusão 02: Preciso descongelar a geladeira. 

19 de outubro de 2012

Eu sofro muito

Eu sofro muito. Estou sofrendo muito hoje, nos últimos dias, últimos anos... quem sabe nas últimas vidas, se é que existem vidas passadas, se existiram, eu sei que sofri muito.


Eu sofro porque eu estou longe das pessoas que eu quero estar perto, mas eu sofro porque os lugares onde elas estão eu não gostaria de estar, apenas queria que elas estivessem aqui. Eu ia sofrer menos se a Carol, a Marcela e a Olivia estivessem aqui, ou nem sofreria mais. 
Eu estou sofrendo por amar a cidade onde vivo, o lugar onde moro, mas ter quem eu amo longe. Eu sofro porque eu tenho medo de ter que voltar. Não ter trabalho aqui, nessa cidade que eu amo e ter que voltar. Eu não quero voltar. 
Já aprendi a lidar com a saudade das pessoas que eu amo, não quero ter que lidar com o fracasso de retornar pra um lugar que eu não gosto só porque não tenho como me sustentar. 

Nos últimos dias eu tenho sofrido mais porque tenho que ganhar dinheiro, pra ganhar dinheiro eu preciso de um trabalho e eu não tenho. O fato do dinheiro que ainda me resta estar acabando me enlouquece, porque dinheiro é uma coisa que enlouquece as pessoas e a falta dele enlouquece muito mais.

Então penso que ir à farmácia, que é ao lado do supermercado, é mais fácil. Mas me disseram que veneno de rato é mais barato e eficiente, então voltei ao super, mas não comprei veneno de rato.

Há anos eu não sabia o que era escolher um creme dental em vez do outro por causa de centavos de diferença, assim aconteceu com o papel higiênico, com o presunto e com os demais itens da lista.
Há anos eu não sabia o que era fazer apenas 2 refeições por dia só pra não precisar gastar com comida.
Há anos eu não sabia mais o que era ligar pro meu pai pra ter que pedir dinheiro pra comprar comida, coisa que eu ainda não fiz, mas o fato de pensar em fazer, faz com que eu me sinta humilhada pela vida. Até porque, eu não precisaria estar contando os centavos pra comprar o básico se não fosse meu orgulho, orgulho que herdei do meu pai, por isso fica ainda mais difícil pedir dinheiro pra ele. 
Me faz sofrer de forma arrebatadora imaginar a expressão no rosto dele quando eu terminar as frases que estou ensaiando dizer, envolve pedido de desculpas, vergonha por não poder me sustentar e o quanto me sinto humilhada por isso.

Eu estou sofrendo também, por pequenos sofrimentos da vida, pequeno sofrimentos que se juntam e formam um tão grande que a gente perde o controle e chora que nem criança. 

Eu estou sofrendo porque eu tô longe da minha mãe, eu sofro porque ela diz que eu tenho que ser forte e boa filha pra mostrar pro meu pai que eu sou boa filha. Mas eu sofro por não poder fazer o que minha mãe pede, logo, não sou boa filha, então não posso mostrar pro meu pai que sou uma boa filha. 
Então sempre penso que um telefonema ela pode resolver toda a minha vida, ela me liga e os problemas continuam ali e eu sinto que eu sofro ainda mais ao me dar conta que o telefonema dela piorou tudo. 
Quem sabe eu esteja sofrendo muito, porque eu não precise de um telefonema, mas preciso de colo de mãe pra chorar que nem criança e ela está muito longe pra isso.

Sigo sofrendo porque quem eu gosto acho que gosto não quer me ver, mas eu acho que sofreria um pouco menos se eu pudesse ver, mesmo que de longe, só um pouquinho. Aí eu ia passar a sofrer por ter que me controlar pra não correr pra perto. Porque eu sofro e, quando eu não sofro por uma coisa, o sofrimento passa pra outra. 
Ele não quer me ver, mas aceitou me atropelar se for antes de trocar as peças do carro, senão pode dar problema de novo - eu me pego fantasiando que esse é o jeito dele mostrar que gosta de mim e volto a sofrer ao perceber que não.

Então quando o coração começa a se sentir mais aliviado, eu me dou conta de que sofro por outros motivos bobos, como não conseguir baixar um dos filmes que eu quero ver, ora dá erro, ora não encontro legenda compatível, é um sofrimento só. 
Um sofrimento não tão só, ele vem acompanhado de polenta, que é um alimento que me faz feliz, porque eu lembro quando eu era criança e não sofria. Mas meu pai gosta de polenta e quando meus pais ainda viviam juntos, tinha polenta na mesa, tinha meu pai e minha mãe e tinha uma família ali. Eu não sei fazer polenta. Não sei porque meu pai diz que ninguém faz polenta como a minha mãe e eu queria que ela pudesse fazer polenta pra ele, e a sentarmos juntos de vez em quando. 

Depois de tanto lamentar, passa, passou.